CENTROS DE INSPEÇÃO VÃO APERTAR FISCALIZAÇÃO ÀS EMISSÕES POLUENTES EM DEZEMBRO
…ou não!
As notícias são cada vez mais uma fonte de desinformação, que acabam por criar mitos, muitas vezes infundados, sobre diversas matérias, sendo o automóvel um deles.
Antes de avançar muito mais, segue o link para a notícia a quem interessar ler:
https://www.publico.pt/2019/07/16/sociedade/noticia/centros-inspecao-vao-apertar-fiscalizacao-emissoes-poluentes-dezembro-1880124
Primeiro é preciso saber com quem estamos a lidar, o Ministro que proferiu esta declaração, é o mesmo que há uns meses atrás afirmou que comprar um carro a diesel seria um desastre, pois perderia o seu valor em 4 ou 5 anos. Bem, poderia terminar aqui o meu artigo, pois quem tem esta visão sobre o mercado automóvel não está claramente suficientemente dentro do assunto, mas, examinemos com um pouco mais de profundidade este assunto, para que se possam tirar reais conclusões sobre estas afirmações.
O que vai mudar?
Nada…
…ok, algo vai mudar, mas não é nada de novo, convém recordar que estamos a falar de alterações previstas e publicadas em diário da república em 2017!!
Mas, para que isto faça sentido, e se leram a notícia que publiquei inicialmente, então vejam e ouçam por vocês aquilo que realmente foi dito pelo Ministro do Ambiente, Eng. João Fernandes, na dita Comissão de Ambiente: (A partir do minuto 31)
Bem, antes demais é bom ouvir o Sr.Ministro referir que o assunto não é da sua tutela, mas sim do IMT, ao qual pediu informação e lhe foi transmitida em forma de tablóides de jornal, que tanto jeito dão.
Em segundo lugar, é importante referir que embora o requerimento do PSD seja especificamente sobre filtros de partículas, a resposta é sobre o nome de sistemas anti poluição, mais abrangente, mais vaga e com maior possibilidade de escape (já que estamos a falar disso…).
Pois bem, como foi referido o Decreto lei que regulamenta estes novos métodos de inspeção (DL.144/2017) foi aprovado em 2017, saindo em Diário da República em 29/11/2017, decreto esse que transpõe a directiva europeia 214/45/UE que já foi dissecada anteriormente num artigo (
https://www.checksum.pt/ipos-novas-regras-e-controlo-via-obd2/ ).
Novos métodos de inspeção
Esta “nova” directiva pode ser consultada aqui:
https://dre.pt/application/conteudo/114276584
Para quem não quiser perder muito tempo pode saltar directamente para a página 57, onde encontra:
Inspeção visual:
- Equipamento de controlo das emissões instalado pelo fabricante inexistente ou claramente defeituoso
- Fugas passíveis de afetar a medição das emissões
- O indicador de mau funcionamento não segue a sequência correta
- Reagente insuficiente, se aplicável
Ou seja, nada de “downpipes” a substituir os filtros de partículas, nada de fugas, tanque de ureia cheiinho, nada de luzes de motor acesas e aos PSA, se faltar aditivo, não passa…
Ora, mas como vamos medir isto, o Decreto explica:
Medição da opacidade dos gases de escape em aceleração livre (sem carga, desde a velocidade de marcha lenta até à velocidade de corte) em ponto morto e com o pedal da embraiagem a fundo ou leitura do OBD.
Portanto, a medição é feita desde a marcha lenta ao corte, meninos das Ibizas, quem tiver o melhor corte, não paga inspeção!!…e não…não me esqueci da armada BMW…não esquecer levar a ficha OBD ligada e sem truques.
O que realmente vai mudar?
Bem, acima de tudo há um claro enfoque na verificação visual dos componentes, o que me parece lógico e necessário, mas, ao mesmo tempo totalmente depende do inspector, levando àquilo que se conhece.
Outra “novidade”, quem tem vindo a aterrorizar meio mundo é a questão do OBD, não querendo entrar muito sobre este assunto, é preciso esclarecer que quando o protocolo OBD2 foi criado, com ele veio associado um método de verificação automática dos sistemas de anti-poluição da viatura, o chamado readiness test (
https://www.obdautodoctor.com/scantool-garage/obd-readiness-monitors-explained )
Isto significa que não será o inspector a determinar se o veículo está ou não conforme, mas sim a máquina automaticamente lhe dará o resultado, e isto a meu ver vai ser MUITO mais penoso para quem tem filtro de partículas do que para quem não tem, passo a explicar.
Quando um filtro de partículas entope, seja momentaneamente ou de forma permanente, o mesmo irá fazer com que surjam erros associados, o mesmo acontece para os restantes sistemas anti poluição (EGR, EVAP, etc) o que faz com que, enquanto o sistema não volte à normalidade, com um nº determinado de ciclos, o monitor OBD2 irá dar o sistema como “NOK” ou “NOT FINISHED”, e nesse caso, o sistema está em falha, temos reprovação.
Para quem não possui filtro de partículas, e caso o mesmo esteja correctamente eliminado da unidade de motor, então o sistema estará “OK”.
É importante perceber que a ausência de um filtro ou a circulação com um filtro danificado/entupido/envelhecido é semelhante, um motor que passa a vida a gastar combustível com regenerações forçadas, com emissão de carvão, com lavagens e limpezas e substituições de óleo por contaminação, tem uma pegada ecológica semelhante.
A solução aqui passa pela substituição do DPF, o qual na grande maioria dos fabricantes não ultrapassa a marca dos 200.000 km´s (140.000 para os carros importados a bom preço) sem sinais evidentes de cansaço, embora isto seja muito dependente das condições de utilização.
Conclusão
Os testes de opacidade são curtos e é necessário um controlo mais apertado, mas é importante perceber que este controlo não vai incidir sobre quem não tem filtro, mas sim, sobre quem tem níveis de emissão acima do limite, e isso acontece em carros com e sem o respetivo filtro. As medições tradicionais vão-se manter, pelo que não é de esperar todo o radicalismo sugerido pelas notícias.
Há também a questão do OBD, que não é só para os elementos do grupo propulsor, mas para o sistema de travagem e airbags, onde poderá causar algumas surpresas adicionais.